Jornal GGN – Pesquisa feita como tese de doutorado na FEM (Faculdade de Engenharia Mecânica) da Unicamp, em São Paulo, esmiuçou os benefícios das USFs (redes solares fotovoltaicas, em português) ao meio ambiente, já que não emitem gases do efeito estufa e podem estimular a geração de emprego e renda. A proposta é do engenheiro agrônomo Davi Gabriel Lopes, cujo trabalho afirma que se os 13 projetos de USFs em andamento no país, por meio de chamada da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), já estivessem em funcionamento, o Brasil teria evitado a emissão de 6.285 toneladas de carbono equivalente (tCO2eq) em 2011 e de 11.229 (tCO2eq) em 2012.
“Além de não emitir gases de efeito estufa [GEEs] depois de instalada, a usina solar pode colaborar para a criação de empregos e a geração de renda, fatores mais que desejáveis para um país em desenvolvimento como o Brasil”, afirma Lopes. A Chamada 13 da Aneel, em 2011, atraiu cem projetos de USFs, dos quais apenas 18 foram aprovados pela agência. Desse total, cinco desistiram de continuar as propostas. Dos 13 restantes, apenas uma se concretizou, com a instalação, em 2012, da Subestação Tanquinho, em Campinas, que necessitou de recursos que chegaram a R$ 13 milhões, para produzir 1.090 MW.
Para chegar ao volume de poluentes que deixariam de ser emitidos no país em função do funcionamento das 13 usinas, o pesquisador tentou coletar informações diretamente com as 13 propostas. Mas apenas duas – entre elas a que está em funcionamento, atualmente – responderam ao questionário elaborado pelo pesquisador. Lopes, então, recorreu às informações que os propositores repassavam à Aneel como parte de um cronograma de reuniões de acompanhamento dos projetos, mas ainda assim o trabalho não continha as informações suficientes.
Para suprir a falta de informações, o pesquisador recorreu à planta da usina atualmente em funcionamento, que serviu de base para estabelecer as projeções que nortearam todo o trabalho. Tendo como base a capacidade energética das usinas, de 25.619 Mwh/ano (o suficiente para abastecer cerca de 125 mil residências por um ano12 meses), e levando em conta a metodologia adotada pela UNFCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em português) da ONU (Organização das Nações Unidas), Lopes chegou aos parâmetros que alimentaram um software que simula a energia elétrica gerada a partir de SFCR (Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede).
Modelo ideal
Os benefícios ambientais do modelo de usinas solares fotovoltaicas, evidenciados pelos cálculos da pesquisa de Davi Gabriel Lopes, poderiam ainda incluir o Brasil no chamado MDL (ecanismo de Desenvolvimento Limpo) – conceito instituído pelo Protocolo de Kyoto para auxiliar iniciativas voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. A ideia consiste na possibilidade de geração de crédito por cada tonelada de CO2 equivalente que deixa de ser emitida ou é retirada da atmosfera.
Essas unidades são convertidas para crédito de carbono, chamada RCE (Redução Certificada de Emissão). Os créditos podem ser negociados no mercado mundial, como se fosse uma ação, com outros países que também investiram em projetos de MDL. Os clientes mais comuns desse sistema são países desenvolvidos, que desejam reduzir as emissões de GEEs de uma maneira mais barata do que investir em projetos em seu próprio território. Outra característica das USFs também serviriam para incluir o Brasil no sistema MDL: desenvolvimento sustentável, geração de emprego e renda e transferência de tecnologia.
Não bastassem todas essas condições, o Brasil ainda dispõe de características naturais que potencializariam o pleno funcionamento dessas usinas. De acordo com o MMA (Ministério do Meio Ambiente), o país recebe energia solar da ordem de 1.013 MW/h anuais, o equivalente a 50 mil vezes seu consumo anual de eletricidade. Os estados recebem, em média, entre três e oito horas por dia de insolação. A regão Nordeste recebe a maior radiação do país, o equivalente à da cidade de Dongola, no deserto do Sudão (África), e a região de Dagget, no Deserto de Mojave, na Califórnia (EUA) – todos considerados os melhores lugares do mundo para esse tipo de tecnologia.
Apesar disso, o Brasil ainda perde para a Europa em termos de investimentos nas USFs. “Como a nossa matriz elétrica está fortemente baseada na hidroeletricidade, que é barata e renovável, o país nunca chegou a investir fortemente em outras fontes igualmente renováveis, como a fotovoltaica. Na Europa, essa lógica se inverte. Como a produção de eletricidade a partir das usinas térmica e nuclear é muito cara e acarreta sérios impactos ambientais, a alternativa da energia fotovoltaica torna-se economicamente viável”, esclarece o autor da tese.
Fonte:http://jornalggn.com.br/