Projetos de geração de energia a partir da luz do sol têm começado a ganhar espaço no setor elétrico. No fim de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a Coelba, concessionária que atua no Estado da Bahia, a implementar um projeto para geração solar fotovoltaica no estádio de futebol Governador Professor Roberto Santos (Pituaçu), na capital baiana, que deverá se tornar o primeiro do Brasil a ter esse tipo de iluminação.

A estimativa de geração anual é de 630 megawatts/hora e a entrada em operação da usina está prevista para o fim deste ano, em um jogo do time do Bahia contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro de Futebol. Como a geração prevista será aproximadamente 75% superior à carga do estádio, a energia excedente deverá beneficiar edifícios do governo estadual. O projeto deve envolver cerca de R$ 5 milhões.

O estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, está concluindo a documentação para licitação de um sistema semelhante, enquanto os de Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasília e Manaus também estão em fase de estudo de viabilidade econômica. Há projetos para que alguns aeroportos do país também gerem energia a solar. “Esses são alguns dos projetos chamados de vitrine, apresentados pelo Instituto Ideal e pela Universidade Federal de Santa Catarina, que estão aos poucos ganhando espaço”, diz Ricardo Ruther, professor da UFSC e diretor do Instituto Ideal.

O potencial do segmento no Brasil é imenso. “Se você instalar nas proximidades de Brasília um gerador solar fotovoltaico de área equivalente a menos de 0,05% do território nacional, a geração anual equivalente será superior aos cerca de 420 TWh de energia elétrica consumidos em 2010 pelo país”, afirma Ruther. Se um gerador solar fosse instalado sobre toda a área inundada pelo lago de Itaipu, ele geraria mais do que o dobro da energia elétrica produzida pela usina anualmente.

“Tecnicamente, a energia solar tem o potencial para suprir toda a energia elétrica consumida pelo Brasil, mas sua penetração na matriz brasileira vai acontecer de forma gradual, à medida em que sua viabilidade econômica ficar demonstrada”, afirma Ruther. Dos cerca de 50 GW implantados em todo o mundo no segmento, mais de 90% foram instalados nos últimos cinco anos. Nos últimos cinco anos, o preço dessa tecnologia sofreu redução de 50%, e a previsão é de uma redução de mais 50% ate 2020.

A energia solar tem várias peculiaridades que a diferenciam da geração de energia hidrelétrica ou até da eólica. Para Ruther, o primeiro ponto é que o custo de energia solar fotovoltaica tem de ser comparado com a tarifa (com acréscimo de impostos) que o consumidor final paga e não com o custo de geração das outras fontes. “Isso é importante porque a geração solar integrada a edificações urbanas ocorre junto ao ponto de consumo, ao contrário de fontes convencionais, nas quais a usina está distante do consumidor final e são feitos investimentos em transmissão e distribuição”, diz Ruther.

Ele exemplifica citando o caso da cidade mineira de Belo Horizonte, uma das mais ensolaradas do país. O consumidor residencial da cidade paga uma tarifa de R$ 600 por MWh – mais elevada do que o custo de geração solar. “Para os níveis de radiação solar de Belo Horizonte e para uma taxa interna de retorno de 10%, a geração solar na capital mineira pode custar cerca de R$ 530”.

Caso a taxa de retorno do projeto caísse para 6% (Belo Monte teria retorno de 5,5%), o custo de geração solar cairia para R$ 390, muito abaixo do que o consumidor de Belo Horizonte paga em sua conta de luz. Para o especialista, os projetos de geração solar se tornarão gradualmente viáveis economicamente no país até 2020.

Fonte: Valor Econômico

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