Os notáveis avanços na instalação de coletores solares em edificações no Brasil credenciam o país para o próximo passo: leilões de compra específicos, a exemplo a energia eólica

A notícia de que o Brasil agora ocupar o sexto no lugar no ranking mundial de coletores solares, veiculada no Jornal da Globo, é animadora. Mas fica ainda mais expressiva se levarmos em conta que, há menos de dez anos, nenhuma cidade brasileira tinha legislação específica para isso.

A colocação nacional, em área de coletores instalados, não ultrapassava o trigésimo lugar. É o que relembra o físico Délcio Rodrigues, diretor do Instituto Ekos Brasil e especialista em planejamento energético. Segundo ele, o jogo começou a virar com o livro Um Banho de Sol para o Brasil, de autoria de Rodrigues e Roberto Matajs, publicado pelo Instituto Vitae Civilis em 2004.

O argumento era simples e convincente. Se apenas os chuveiros elétricos fossem substituídos por aquecedores solares, a economia de energia nos horários de pico seria superior à potência de Itaiupu – 18 mil MW contra 14 mil MW, respectivamente. “Era uma abordagem nova. Claro que entre os técnicos do setor já tinham essa análise. O que a gente fez foi reunir os dados e contar uma história”, diz Rodrigues.

O trabalho deu origem à iniciativa Cidades Solares, com o objetivo de eliminar um dos principais entraves para a proliferação da tecnologia solar em edificações: os códigos de obras municipais, que obrigavam à instalação de fiação e disjuntores específicos para chuveiro elétrico, sem espaço para alternativas.

A campanha deu resultado. Em apenas quatro anos – de 2006 a 2010 – vinte e cinco cidades brasileiras aprovaram leis com adaptação aos códigos de obras. Mais recentemente, uma portaria do governo federal tornou o equipamento obrigatório para novas habitações populares. Hoje são 2,5 milhões de coletores instalados, que ocupam uma área equivalente a 900 campos de futebol.

Para Rodrigues, o próximo passo deveria ser a geração de energia solar para o sistema interligado, por meio de leilões de compra específicos, a exemplo do que já ocorreu com a energia eólica. “Estamos no limiar da competitividade do solar fotovoltaico. Quando a gente começou com essa história era tão caro que a gente quase não tinha coragem de propor. Hoje os preços caíram muito. Já existem situações em que a energia solar é competitiva”, diz.

A medida ajudaria a criar competência e competitividade na indústria brasileira, de modo a reduzir ainda mais os preços, segundo Rodrigues: “Quando eu falo de leilão específico, eu já estou falando de dar um prêmio para uma fonte que normalmente não consegue competir com convencionais. Aliado a regulações e capacitações, isso ajuda a construir uma curva de aprendizado. O custo por litro do etanol caiu e muito e é resultado disso ao longo dos anos. As empresas aprendem”.

Decerto, não é tarefa fácil. Rodrigues não vê a questão da eficiência energética como prioridade para o atual governo. Isso tem impactos também sobre a difusão do solar térmico que, embora constante, ainda alcança uma parcela pequena das edificações.

“Instalar numa casa em construção é relativamente simples. Num lugar pronto é mais difícil e mais caro. Fazer essa mudança depende de um grande programa nacional de conservação de energia que pegue como prioridade. Esse governo se preocupa muito mais com novas hidrelétricas que com conservação de energia”, finaliza.

Fonte:http://www.vitaecivilis.org.br

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