Alexandre Costa Nascimento – Eletrosul se torna ponta de lança do governo no projeto para aumentar a participação da energia solar no total produzido pelo país

O Brasil tem condições de brilhar no campo das energias alternativas. Mesmo com uma matriz predominantemente limpa e renovável – mais de 70% da eletricidade é gerada em usinas hidrelétricas –, o país começa a dar os primeiros passos para fazer do vento e da luz do sol fontes viáveis de produção de energia.

O plano do governo federal é aumentar o peso desse tipo de geração, hoje com participação insignificante, abaixo de 1%, para 10% nos próximos 15 anos. Isso envolve a criação de um sistema empresarial de energia limpa, com o desenvolvimento de uma indústria com tecnologia nacional no setor de geração solar – processo semelhante ao que ajudou a tornar a geração eólica comercialmente viável no país.

As pré-condições para o desenvolvimento da energia solar aqui já existem, com matéria prima disponível o ano todo, o que confere ao Brasil um potencial de aproveitamento energético superior ao da Alemanha, nação que lidera a tecnologia de geração fotovoltaica.

Os primeiros projetos na área devem começar a sair do papel nos próximos meses, com a licitação internacional do projeto Megawatt Solar para a criação da primeira usina de 1 megawatt na sede da Eletrosul, em Floria-nópolis, prevista para entrar em operação até o fim deste ano. Outros projetos preveem a cobertura dos estádios do Mineirão, em Belo Horizonte, e de Pituaçu, em Salvador, com painéis solares.

Esses projetos-piloto devem servir de “vitrine”, viabilizando o mercado de energia verde. A Eletrosul, por exemplo, pretende estimular a venda da eletricidade no mercado livre para médios e grandes consumidores, que terão como contrapartida a possibilidade de usar um “selo solar”, indicando a sustentabilidade no processo de fabricação dos produtos.
“Depois do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, fica cada vez mais claro que esse é um processo que tem de ser iniciado. Nós resolvemos ser os pioneiros nessa área”, afirma o presidente da subsidiária estatal, Eurides Mescolotto.
Segundo ele, o país tem potencial para aproveitar a geração solar e eólica como sistemas complementares à geração hidrelétrica, podendo criar uma matriz elétrica “100% limpa e renovável”.

Segundo o presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal), Mauro Passos, a meta é criar no Brasil um sistema descentralizado de geração de energia, com a instalação de painéis fotovoltaicos em telhados residenciais, como o que existe hoje na Alemanha. “A vantagem desse modelo é que ele leva a geração de energia diretamente para onde está o consumo, tornando desnecessária a construção de linhas de transmissão, que são extremamente caras”, explica.

Para que isso seja possível por aqui, ainda é preciso que o Congresso Nacional aprove uma mudança na regulamentação do setor elétrico, permitindo que a energia gerada pelos painéis solares possa ser jogada na rede. Além disso, o setor também aguarda a confirmação de leilões governamentais que garantam a compra dessa energia, induzindo a criação de um mercado que justifique os altos investimentos. “O futuro da energia solar vem do próprio poder que ela tem. Quando a população souber que é possível e viável, vai empurrar governo e criar mercado”, prevê.

Modelo alemão

A Alemanha tem atualmente 900 mil painéis solares instalados em telhados residenciais. Juntos, eles geram 14,4 mil MW – mais do que a eletricidade gerada pela usina binacional de Itaipu (14 mil MW). Cada módulo de 10m² gera o equivalente a 900 quilowatts/hora por ano, o que representa 25% da energia consumida por uma residência.
Mas o modelo solar, sozinho, não garante a autossuficiência energética das casas. Isso porque, sem a incidência de raios solares durante a noite, a unidade precisa, necessariamente, estar ligada à rede para ter o fornecimento de eletricidade garantido nesse período.

Para efeito de comparação, no Brasil, cobrindo-se uma área de 1,3 mil quilômetros quadrados com módulos solares fotovoltaicos – equivalente a área alagada da represa de Itaipu –, seria possível gerar o dobro da energia produzida pela maior usina hidrelétrica do mundo, ou metade da eletricidade produzida hoje no país.

Geração com sol já é viável economicamente

Contrariando a tese de que a energia solar é excessivamente cara para ser implementada no Brasil, atualmente, sem nenhum tipo de isenção fiscal ou subsídio, a geração fotovoltaica já seria economicamente viável em algumas regiões do país. É o caso de Belo Horizonte, em que as condições climáticas favoráveis aliadas à maior tarifa de energia elétrica do país (R$ .58 por quilowatt hora) fazem com que o custo de produção da energia solar fique apenas alguns centavos acima do que hoje é fornecida para os consumidores mineiros. A previsão de um reajuste de 11% na tarifa, já autorizado pela Aneel, tornará a energia solar mais competitiva.

A comparação é feita com base no custo de produção da energia solar, já considerados os impostos. “A energia solar pode se justificar economicamente para uso residencial agora, já”, garante o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)Ricardo Rüther.

Segundo ele, a popularização dessa tecnologia deve baixar ainda mais os custos nos próximos anos. “À medida que possui a tecnologia, o preço tende a cair. Já caiu de 5% a 7% nos últimos anos e vai continuar caindo à medida que entrar na escala da energia convencional”, prevê.

O presidente do Instituto Ideal, Mauro Passos, diz que a competitividade da geração solar é “inevitável”. “O tempo vai responder essa questão. Hoje temos obras cada vez mais caras, com a necessidade de áreas cada vez maiores para implantação de hidrelétricas. Por outro lado, a geração solar tem uma curva decrescente”, compara.

Rüther cita as condições de financiamento da usina hidrelétrica da Belo Monte, que obteve financiamento de R$ 5,5 bilhões, 30% do valor total da obra, com as condições de empréstimos do BNDES. “Se a energia solar tiver as mesmas condições, deixa de ser o futuro e vira presente”, garante.(ACN)

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