A regulamentação da microgeração de energia tornou a geração fotovoltaica mais próxima da realidade no Brasil, ao permitir que consumidores instalem placas solares e ganhem descontos nas contas na mesma proporção da energia por elas produzida. No entanto, para alguns especialistas, a Medida Provisória 579 – que promete baratear a energia elétrica em 16% para o cliente residencial e até 28% para o industrial – pode fazer com que alguns projetos do tipo sejam adiados.
Isso porque, no cenário atual, a geração fotovoltaica só seria competitiva economicamente no Brasil em algumas áreas de concessão, nas quais valor final do MWh ultrapassa os R$400. Um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontava que as regiões atendidas por Cemig, Cemar, Energisa MG, Cepisa e Ampla, por exemplo, já teriam essas condições. Mas essas tarifas devem cair a partir de 2013.
“É bom lembrar que a redução da tarifa, que é tão bem vinda para tantos consumidores, vai criar dificuldades para micro e minigeração entrarem agora para competir. Como vai cair a tarifa, a energia solar vai ser menos competitiva do que já era”, opina Ildo Luis Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP).
O subsecretário de Energia Renovável de São Paulo, Marco Antonio Mroz, tem opinião semelhante. “Acho complicado. Quem estava planejando um projeto solar vai continuar com a ideia, agora com a energia 20% mais barata?”, indaga. Para ele, neste contexto, tanto a “solar quanto a eólica saem de cena”.
Por outro lado, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Abens), Samuel Luna Abreu, é otimista e aponta que a expectativa atual da energia solar é muito boa. “O interesse pela fonte saiu da academia e conseguiu se espalhar pela sociedade. Nesse primeiro momento, vamos partir daquela escala pequena, puramente laboratorial, para quando se ter uma massa critica poder expandir num nível bem maior.”
Para a Solarplaza, empresa holandesa especializada em conferências e missões internacionais no setor solar, a publicação da MP não impedirá que a geração fotovoltaica seja competitiva com a tarifa paga pelo consumidor. “As medidas do governo atenuam o custo crescente da energia de fonte tradicional no Brasil. No entanto, mesmo com a redução, a fotovoltaica ainda será economicamente atrativa em vários Estados do Nordeste e para médios e pequenos consumidores de outras regiões”, aposta Edwin Koot, CEo da companhia.
Para Abreu, da Abens, o alerta mais imediato é em relação à mão de obra. “É uma preocupação muito grande da associação. Já levantamos esse problema. A velocidade com que vai crescer a mão de obra de agora não tem condições de atender ao mercado. Teremos que fazer um investimento muito grande em formação de pessoal nos próximos anos. Mas num primeiro momento essa carência já existe.”
Lobões e lobinhos
Uma das grandes expectativas do mercado solar fotovoltaico é a realização de um leilão especifico para a fonte. Mas, Na opinião de Ildo Sauer, do IEE-USP, tal realização seria difícil. “Um leilão solar é um equivoco brutal. Não é esse caminho para a fonte entrar na matriz. Porque a solar só se torna competitiva quando embebida na rede, junto ao consumidor final na baixa tensão”, diz.
Para ele, vai demorar muito tempo para a fonte se tornar competitiva na geração. “O que eles (os empresários) querem é fazer lobby para impor isso. Como foi feito aqueles leilões especiais para biomassa, nuclear, etc. Eu tenho dito que área de energia tem sido comanda por lobby – muitas vezes acolhida e intermediada pelo lobinho, e levado a cabo pelo lobão”, brinca Sauer.
Por outro lado, Kootz, da Solarplaza, lembra que incentivos foram utilizados “na totalidade dos países com geração significativa desse tipo de fonte” e diz que esses mecanismos “são importantes para o estabelecimento da indústria, criando-se um volume mínimo” de demanda. “O Brasil ainda tem a vantagem adicional de a energia solar já ser mais atrativa em algumas regiões, mas é fundamental que haja um incentivo mais amplo”, reforça.
Fonte: http://www.jornaldaenergia.com.br