Mesmo ensolarado por natureza, o Brasil enfrenta um problema crônico para expandir a produção de energia solar: os equipamentos são importados, com alto custo, o que torna a eletricidade gerada cara demais. Como o país é o maior fornecedor mundial da matéria-prima para a fabricação dos painéis solares – o quartzo –, bastaria que o processo de construção dos aparelhos fosse nacional para que o barateamento dos custos servisse de incentivo à ampliação do uso de uma energia renovável ambientalmente menos impactante. A Itaipu Binacional, referência em geração hidrelétrica, está prestes a abrir um novo flanco, garantindo condições para que a matriz energética no Brasil seja ainda mais limpa.

A cidade paranaense de Foz do Iguaçu e o distrito paraguaio de Hernandárias estão a caminho de se tornarem um polo de sustentabilidade, oferecendo soluções na busca da pegada zero de carbono. O projeto intitulado “Silício Verde” é ambicioso e está na fase de avaliação da viabilidade econômica.

O superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Cícero Bley Júnior, reconhece que a fabricação de painéis solares não é um processo simples – ou alguém já teria feito no Brasil. “São seis fases. Cada uma delas altamente tecnificada e complexa”, diz. Mas ele destaca que é possível. Hoje o país exporta, ao ano, 230 mil toneladas de quartzo extraído de jazidas principalmente em Minas Gerais. Em formato de rocha ou apenas com um simplificado processamento, os cristais vão para China, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Alemanha para a fabricação de painéis fotovoltaicos. “A China produz placa solar com carvão. Ou seja, finge que está fazendo energia limpa”, diz Bley Júnior.

Parceiros

O governo estadual e a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) são aliados da Itaipu no projeto Silício Verde. Juntos, estão pagando o projeto de viabilidade econômica. Bley Júnior destaca o fato de o Brasil não agregar valor ao quartzo extraído. “O que sai daqui por R$ 1 volta por R$ 1 mil”, comenta. Além da questão monetária, tem o fator logístico. A rocha viaja até 20 mil quilômetros para depois voltar ao país, passeando por igual distância, em forma de placa solar. Bley Júnior reforça que o uso de energia solar está sendo expandido no mundo e, de dependente de equipamentos importados, o Brasil pode passar a exportador de tecnologia.

Devolução do excedente evita desperdício

Uma decisão preponderante para ajudar a deslanchar a energia solar no Brasil foi tomada recentemente, quando o governo mudou as regras do jogo e passou a aceitar a devolução do excedente gerado de eletricidade – que é “jogado” na rede. Sem essa possibilidade, restava ao sistema fotovoltaico desperdiçar a energia gerada em horários de pico, com muita incidência solar, ou buscar formas de armazenar, em baterias, o que era gerado. “A devolução é a saída para vencer alguns problemas da energia a partir de hidrelétricas, como a logística de distribuição. Com a energia solar, o processo é descentralizado. Ela é usada onde é gerada”, comenta Cícero Bley Júnior, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional.

A energia gerada na hidrelétrica também deve abastecer o sistema de produção fotovoltaica. “Cada quilowatt aplicado pela Itaipu é multiplicado e vai gerar onze vezes mais energia. É um ciclo virtuoso, limpo e renovável”, comenta. A ideia é formar, no entorno da usina, um polo nos mesmos moldes da cadeia automotiva, em que uma série de empresas menores e fornecedoras, que processem vidro e borracha, por exemplo, participem da rede. A estimativa é que o projeto vire realidade concreta, com produção industrial, em quatro anos.

Fonte:http://www.gazetadopovo.com.br/

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