Diego Luis, para o Procel Info

A sede diplomática da Itália no Brasil, desenvolvida pelo engenheiro italiano Pierluigi Nervi, tem sido reconhecida, desde o ano passado, como a Embaixada Verde. Isto porque é a primeira embaixada no país a utilizar energias renováveis em seu abastecimento energético buscando a autossuficiência através da energia solar, e também a primeira da Itália no mundo. O projeto é constituído por 405 painéis fotovoltaicos com capacidade de geração de 86 megawatts-hora (MWh) por ano, o que pode evitar a emissão de 7,6 toneladas de dióxido de carbono (CO2) à atmosfera anualmente.

A iniciativa partiu da preocupação do embaixador, Gherardo La Francesca, com o alto custo das faturas de energia elétrica do prédio. Diante disto, ele pediu um estudo técnico de viabilidade para implantação de um sistema de abastecimento através da energia solar na sede, que gerasse economia de energia para a Embaixada. O projeto, elaborado em consonância com normas e diretrizes internacionais para estudos e projetos de centrais solares fotovoltaicas integradas à edificação, faz parte de um programa mais amplo chamado Farnesina Verde, lançado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália. Para que a instalação do sistema fosse possível, a Embaixada da Itália no Brasil contou com a colaboração da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Companhia Energética de Brasília (CEB) e da Enel Green Power.

“Tornar-se a primeira sede diplomática a utilizar energias renováveis para seu abastecimento energético representa acima de tudo nossa contribuição na busca de uma solução para os problemas ambientais”, destacou o conselheiro Econômico da Embaixada da Itália, Cristiano Musillo. Segundo ele, a partir dessa iniciativa outras sedes diplomáticas e outras instalações urbanas e instituições brasileiras estão estudando a possibilidade de reproduzir a experiência. “A Embaixada Verde representa um projeto-piloto, tornando-se um centro de pesquisa para o mercado brasileiro de energia solar, uma vez que a parceria estabelecida com a CEB nos permitirá enviar para a companhia toda a energia que produzimos a mais durante o dia e que depois poderemos reaver durante a noite”, explicou.

Musillo se refere ao fato de a planta solar da embaixada estar conectada à rede elétrica de Brasília, o que permite o repasse da energia excedente não consumida para a CEB. A parceria também proporciona a troca de informações entre a embaixada e a distribuidora, envolvendo diversas questões. “Entre elas, a qualidade da energia que é exportada da embaixada para a rede da CEB Distribuição e a que a companhia fornece à embaixada; detalhes do paralelismo da rede entre a distribuidora e a embaixada, e a troca de informações técnicas sobre o estágio atual da geração distribuída no Brasil e na Itália”, listou o gerente de Normatização e Tecnologia da CEB Distribuição, Celso Nogueira da Mota.

De acordo com Mota, a parceria também possibilita à companhia um aprendizado valioso na área de geração fotovoltaica com venda de excedente. “Será um forte motivo para que o tema faça parte das normas e padrões da concessionária”, garantiu o gerente. “Em princípio, toda fonte de energia limpa, seguindo os preceitos básicos das normas da CEB Distribuição será bem vinda”, destacou. No entanto, como o projeto envolve um modelo de troca de energia entre a embaixada e a CEB, a cooperação acaba se estendendo a aspectos regulatórios. Mota acredita que são necessárias algumas alterações na regulamentação do tema. “A Aneel deve regulamentar de forma mais clara, com relação à geração distribuída, estas parcerias que utilizam fontes ambientalmente limpas”, opinou.

O engenheiro Carlos Café, especialista em aquecimento solar e geração solar do Studio Equinócio, também lamenta a falta de uma legislação que permita ao consumidor usufruir da exportação de energia para a rede elétrica. Segundo ele, isto proporcionaria o abatimento do consumo noturno, seja em termos de energia, com medidores bidirecionais, ou financeiros, através de política de compra e venda de energia distribuída. “Esta política serviria como base necessária e democrática para que todo cidadão ou empresário pudesse optar seriamente em escolher a fonte de energia que a sociedade deseja para o seu futuro”, comenta. “É uma mudança que traz importantes benefícios econômicos para toda a sociedade, principalmente a brasileira, que poderia se tornar sócia efetiva do governo na geração de energia elétrica”, garantiu.

Entre as muitas vantagens do sistema de energia solar está a redução do consumo de energia elétrica da rede. De acordo com Café, o uso da energia solar fotovoltaica pode atenuar alguns picos de consumo ao longo do dia, quando ocorrem também os picos de produção. Outra forma de reduzir o consumo, segundo ele, viria da utilização de sistemas de armazenamento da energia elétrica gerada, embora também apresentem desvantagens. “Se por um lado aumentam as perdas e os custos de manutenção, por outro lado permitem dimensionar um sistema para atender a 100% da demanda de energia elétrica de uma edificação”, explicou.

Café disse que em sistemas sem armazenamento, na ausência de uma legislação específica, a economia de energia pode ficar restrita ao consumo energético durante as chamadas “horas solares”, quando há uma efetiva produção de energia. Neste caso, segundo ele, um sistema dimensionado de forma adequada não exportaria energia para a rede e economizaria, em média, de 10% a 50% do consumo de energia, variando conforme o perfil de demanda elétrica da edificação ao longo das 24 horas do dia.

“Tornar-se a primeira sede diplomática a utilizar energias renováveis para seu abastecimento energético representa acima de tudo nossa contribuição na busca de uma solução para os problemas ambientais”, destacou o conselheiro Econômico da Embaixada da Itália, Cristiano Musillo

O projeto Embaixada Verde envolve também a utilização de um carro elétrico biflex, movido a energia elétrica e etanol, como veículo oficial. O Palio Weekend, desenvolvido e doado pela Fiat em parceria com a Itaipu Binacional, é abastecido com a energia produzida pelos painéis solares. “Trata-se de uma iniciativa moderna e ambientalmente correta”, explicou o chefe da Assessoria de Mobilidade Elétrica Sustentável da Itaipu Binacional, Celso Novais. “O Brasil está dando os primeiros passos para viabilizar um futuro mercado de veículos elétricos e o protótipo que desenvolvemos demonstra a viabilidade técnica”, disse.

Para Novais, que também é coordenador geral brasileiro do Projeto Veículo Elétrico, os custos da tecnologia ainda são uma barreira a ser vencida. “Os custos [da alternativa] são muito elevados no Brasil, havendo perspectivas de redução de preço a médio prazo”, afirmou otimista. No entanto, para que isso seja possível, uma série de fatores precisam ser levados em conta. “Incentivos governamentais, infraestrutura de abastecimento, mão-de-obra especializada para manutenção, aumento da autonomia, produção nacional dos componentes e redução do custo das baterias”, relacionou.

Segundo o gerente da Itaipu Binacional, a iniciativa da Embaixada da Itália pode influenciar positivamente outras instituições a repensarem o tema da sustentabilidade. “A Itaipu incentiva todas as ações de preservação do meio ambiente e considera que a iniciativa pode servir de estímulo a outras entidades, com a utilização de energia solar para alimentar suas instalações e com a possibilidade de fornecer o excedente à companhia elétrica responsável pela distribuição”, concluiu.

O programa Farnesina Verde, que abrange o projeto da Embaixada Verde, é um programa do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália que prevê medidas sustentáveis nas suas sedes diplomáticas. O programa envolve também o Restaurante do Ministério, que implementa ações para se tornar eco-responsável, estimando que 20% ou 30% dos alimentos comprados sejam provenientes de fornecedores locais.

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