Desde o início deste mês o mundo tem acompanhado o triste desenrolar de um dos maiores desastres naturais da história, o terremoto, seguido de tsunami, ocorrido no Japão. Entre mortos confirmados e desaparecidos, os números ultrapassam 10 mil pessoas, além de dezenas de milhares de desalojados e desabrigados. Algumas análises têm sido feitas sobre os possíveis impactos deste trágico evento, em diversas áreas da economia japonesa e mundial. Uma das áreas em foco é a energia, em função das consequências do desastre nas usinas nucleares japonesas, principalmente na usina de Fukushima Daiichi com seus 4,7GW de potência. No curtíssimo prazo, uma forma de reduzir o gap na geração de energia é aumentar o despacho das usinas termelétricas à gás natural ou carvão. Em consequência, o preço do gás natural já tem aumentado nos últimos dias, como é o caso do gás fornecido pela Rússia, que é um dos principais fornecedores das térmicas japonesas. A Rússia, por sua vez, também é o principal fornecedor de gás natural para vários países da Europa, que podem ver aumentar os seus custos de energia.
No mercado de energia solar fotovoltaica, havia expectativa de continuação do ciclo de queda do preço dos painéis fotovoltaicos, em função de anúncios de expansão de capacidade produção de fabricantes chineses. A produção mundial estava prevista em 35GW, contra uma demanda de 22GW para este ano. Mas, os acontecimentos dos últimos dias indicam a necessidade de uma reavaliação deste cenário. No lado da oferta, um grande fornecedor mundial de lingotes e wafers de silício, tem sua planta em uma das áreas mais atingidas pelo terremoto. A planta, que está parada em função da falha no fornecimento de energia, poderá passar por dificuldades de produção por causa dos cortes de energia iniciados e programados para ocorrer no país. No lado do consumo, haverá grande demanda de todas as formas de geração de energia distribuída, incluindo a fotovoltaica, para a reconstrução da infraestrutura do país. Em 2010, foram instalados mais de 1,2GW de potência em sistemas fotovoltaicos, com expectativa de dobrar esta capacidade anual em um período de três anos. No cenário de reconstrução, com a tendência de alta nos preços do gás natural, a energia fotovoltaica aparece como uma das melhores alternativas para estabilizar o fornecimento de energia distribuída, e deve ser amplamente utilizada e incentivada pelo governo japonês. Com isso, não é descartada a possibilidade de, em 2011/2012, o país atingir a previsão dos 2,4GW anuais de energia solar fotovoltaica imaginados para daqui a três anos, suprindo uma parte dos 4,7GW da usina de Fukushima Daiichi.
No restante do mundo, os planos de expansão dos fabricantes chineses de painéis fotovoltaicos podem não se concretizar por diversos motivos. Os programas nucleares mundiais estão em xeque e sendo avaliados ou sob pressão para serem avaliados. Novas regulamentações de segurança surgirão, assim como procedimentos de construção e operação das usinas, mesmo nas mais modernas. Estas ações podem causar ligeiro aumento nos custos da geração de energia por fonte nuclear, além do cancelamento ou postergação da construção de algumas usinas. Um ponto que tem sido questionado é a perda na energia nuclear. Por mais que uma usina nuclear seja segura, quando há problemas em seu “coração”, o reator, este não para até que seja totalmente desativado, perdendo uma imensa capacidade de geração de uma única vez. O tema aqui é a segurança energética, sem entrar no aspecto da segurança da população. E há várias usinas antigas em operação no mundo. Com a pressão do aumento dos preços do petróleo e gás natural e como uma das alternativas à energia nuclear, a Europa pode reforçar os programas de incentivo à instalação de sistemas fotovoltaicos em alguns países, ou reavaliar a redução dos incentivos que estavam previstas em outros. As instalações de sistemas fotovoltaicos podem dar uma turbinada no biênio 2011/2012, fazendo equilibrar a oferta e demanda e, conseqüentemente, estabilizar os preços. Em termos de Brasil, o mercado ainda não nasceu à espera de regulamentação. Mas, no curto prazo, alguns projetos podem não alcançar o nível de preço imaginado pelos seus desenvolvedores, como o recém anunciado projeto Megawatt Solar da Eletrobrás Eletrosul. É um momento de acompanhar a evolução dos acontecimentos e avaliar seus possíveis impactos.
Studio Equinócio
Por Marcelo Sousa – diretor técnico-comercial da Geração Renovável