Desenvolvimento do Brasil tem mais chance de ser assegurado se nós diversificarmos os nossos investimentos em energia
É bastante oportuno que o debate sobre os impactos do pré-sal esteja no auge durante esta campanha eleitoral. O Plano Decenal de Energia do governo Dilma Rousseff prevê que, entre 2013 e 2022, seja investido R$ 1,15 trilhão no setor energético: 72,5% vão para o setor de petróleo e gás; 4,9% serão direcionados a biocombustíveis; e 3%, para as fontes chamadas de novas renováveis, como eólica, solar e biomassa. Por mais que o petróleo ainda seja necessário no mundo, cabe questionar se o Brasil deve concentrar tão maciçamente seus investimentos nessa área. Há riscos estratégicos em termos econômicos, sociais e ambientais.
Em 2012, o pré-sal arrecadou R$ 31,5 bilhões em royalties. Estima-se que esse volume totalize aproximadamente R$ 87 bilhões até 2022. Mas as perdas ocasionadas pelo uso de combustíveis fósseis, sobretudo quando utilizados como insumo para usinas térmicas de geração de eletricidade, têm custado R$ 30 bilhões ao ano e devem custar mais de R$ 450 bilhões entre 2015 e 2030.
Se o país investisse mais em fontes renováveis, ampliando a participação das fontes eólica, solar e biomassa para 30GW na matriz elétrica nos próximos quatro anos (representando 20% do total), geraria 200 mil empregos e movimentaria mais de R$ 33 bilhões. Se estendermos o prazo para 2030, instalando 60GW dessas fontes, seria possível movimentar R$ 300 bilhões, ou 6% do PIB atual. Assim, a substituição do petróleo por energias renováveis redundaria em benefícios econômicos, ambientais e sociais e colocaria o Brasil em uma posição de destaque no cenário global, que, cada vez mais, inclui a superação do petróleo como grande fonte energética — e poluidora — do planeta.
Uma outra conta reforça esse raciocínio: como nossos veículos bebem muito combustível por quilômetro rodado em relação aos equivalentes fabricados na Europa, devemos desperdiçar 114 bilhões de litros até 2030. Isso representa uma perda de R$ 287 bilhões até 2030, de acordo com estudo realizado pelos economistas Amir Khair e Luiz Afonso Simoens. Ou seja, a tecnologia deve reduzir em alguns anos nossa demanda por petróleo, e teríamos mais recursos para investir em outras fontes de energia.
Por esses e outros motivos, pensamos ser equivocado qualificar o pré-sal como a “bala de prata” que vai solucionar os imensos problemas sociais do país. Não é possível que a melhoria da educação e da saúde dependa sempre de uma solução futura.
O desenvolvimento do Brasil tem mais chance de ser assegurado se diversificarmos os nossos investimentos em energia. Afinal, a prudência recomenda não colocar todos os ovos numa cesta só. Quem ganhar a eleição para a Presidência da República deve destinar mais recursos para o incremento das fontes renováveis, trazendo benefícios palpáveis para garantir um futuro melhor para o povo brasileiro.
Sérgio Leitão é diretor de Políticas Públicas, e Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil
Font:http://oglobo.globo.com/