Uma pastilha flexível de silicone fabricada com uma ferramenta da empresa iniciante Twin Creeks.
Essa empresa do Vale do Silício revelou na terça-feira uma ferramenta de produção chamada Hyperion, projetada para reduzir drasticamente o custo das pastilhas de silício usadas para fabricar as células fotovoltaicas. Sua tecnologia consegue fabricar pastilhas muito mais finas — tão finas que podem ser flexionadas e enroladas como uma folha de cartolina.
A Twin Creeks se propôs a adotar uma abordagem muito diferente das técnicas utilizadas há décadas para criar as pastilhas. Normalmente os fabricantes partem de lingotes de silício e os cortam em fatias com serras de diamante, um conceito similar a fatiar um filão de pão.
Há dois inconvenientes nessa técnica, diz Siva Sivaram, veterano da indústria de semicondutores e diretor-presidente da nova firma. As pastilhas produzidas dessa maneira são relativamente espessas, medindo por volta de 200 mícrons, e o processo gera resíduos semelhante à serragem numa serraria.
A Twin Creeks não emprega serras, mas sim partículas atômicas usadas como ferramenta de corte. Com a ajuda de cerca de 1,2 milhão de volts, diz Sivaram, íons de hidrogênio são lançados contra uma pastilha de silício convencional e se implantam logo abaixo da superfície. Quando aquecidas, as camadas ultrafinas de silício, com espessura de apenas 15 a 20 mícrons, podem ser descoladas da pastilha, mais ou menos como um decalque.
Sivaram diz que essa abordagem reduz em 90% o teor de silício na produção dos painéis, e também diminui a quantidade de outras máquinas e materiais usados pelos fabricantes de painéis, cortando pela metade tanto o custo geral de produção das células solares quanto as despesas de capital. As células flexíveis, embaladas em rolos, acrescenta ele, podem ser rapidamente instaladas sobre um telhado por dois empregados, sem exigir a montagem de uma grande estrutura de metal e vidro.
A empresa não está sozinha. Outras firmas iniciantes que buscam novas abordagens para a redução do silício incluem a 1366 Technologies, a AstroWatt e a Silicon Genesis, a qual também vem estudando uma técnica de clivagem envolvendo a implantação de partículas.
Mas os analistas estão otimistas. “A Twin Creeks é uma de um punhado de firmas com potencial de causar um grande impacto no preço final do módulo solar”, diz Sam Jaffe, gerente de pesquisas da IDC Energy Insights, uma firma que acompanha o setor.
Uma questão a observar é a quantidade de energia necessária para produzir cada célula solar, algo que pode ter um grande impacto no custo final, diz Jaffe. Outro fator é saber se muitos fabricantes — alguns dos quais estão hoje em dificuldades financeiras — podem pagar pelas novas máquinas para melhorar sua produtividade. (A Twin Creeks não divulgou o preço exato da Hyperion, mas Sivaram diz que a máquina custará “milhões” de dólares).
Um terceiro fator é garantir a segurança dos operários que trabalham perto da Hyperion, tendo em vista as altíssimas voltagens empregadas. “Estamos falando de um ‘eletrocutador de insetos’ caríssimo”, brinca Sivaram.
A Twin Creeks está atacando os problemas — e se esforçando para satisfazer os inspetores de segurança — em uma fábrica piloto no Mississippi, estado que vem oferecendo incentivos financeiros para essa empresa e outras fabricantes de painéis solares. Ao todo, a empresa já captou cerca de US$ 93 milhões.
A nascente Twin Creeks, hoje com 76 funcionários, é uma das empresas de tecnologia verde criando empregos nos Estados Unidos — mas não na escala que poderia ocorrer se as empresas do país não tivessem sido atingidas pelos encorpados concorrentes chineses. De fato, ao se concentrar na criação de uma ferramenta de tecnologia de ponta que é difícil para rivais estrangeiros copiarem, Sivaram espera que muitos dos maiores clientes da empresa venham justamente da China.
“Eles têm o capital. Eles têm as fábricas. Eles têm o mercado”, disse ele. “Eu quero que eles gastem o capital deles comigo.”
Fonte: http://online.wsj.com/