14/07/2011 – Autor: Fabiano Ávila – Fonte: Instituto CarbonoBrasil/The Brookings Institute/Battelle
Pela primeira vez, o número de vagas nos setores da economia de baixo carbono, incluindo energias renováveis, tratamento de resíduos e agricultura orgânica, ultrapassou os postos de trabalho da indústria dos combustíveis fósseis
Durante sua campanha para a eleição de 2008, o então candidato Barack Obama levantou a bandeira da economia de baixo carbono como uma forma de tirar os Estados Unidos da recessão e gerar milhares de novos empregos. Agora, parece que finalmente Obama poderá apresentar números que comprovam que essa aposta estava correta.
O relatório “Sizing the Clean Economy” (“Medindo a Economia Limpa”), divulgado na última quarta-feira (12), pelo The Brookings Institute e pelo Battelle, duas das maiores instituições de pesquisas independentes do planeta, demonstrou que 2,7 milhões de pessoas estão trabalhando em empresas da chamada economia limpa nos Estados Unidos, um número superior aos 2,4 milhões registrados pela indústria dos combustíveis fósseis.
“Mesmo com o país em recessão, setores como energia eólica, fotovoltaica e smart grid (rede inteligente) dobraram ou triplicaram na última década. A tendência é que cresçam ainda mais”, afirma Mark Muro, diretor de políticas do Brookings Institute.
Para chegar a esse número, os pesquisadores consideraram que economia limpa diz respeito a todas as atividades que buscam melhorar os impactos da indústria tradicional no meio ambiente. Assim, foram incluídas como parte desse grupo empresas de agricultura orgânica, eficiência energética, energias renováveis, células de combustíveis, tratamento de resíduos entre outras.
“Nosso relatório tem o objetivo de apresentar a real importância da economia de baixo carbono. Até hoje, a falta de padrões e dados estatísticos sobre ela sempre foi um problema para determinar seu tamanho, crescimento e contexto. Esperamos ajudar a trazer à tona os números e a relevância desse setor”, explicou Muro.
Um dos destaques levantados pelos pesquisadores é que cerca de 26% dos empregos na economia limpa estão na manufatura, o que é apontado como um sinal de solidez e estabilidade. Para se ter idéia, essa porcentagem não passa dos 9% na economia tradicional.
Além disso, outra vantagem das empresas de baixo carbono é que elas são altamente ligadas à exportação. Cada empregado do setor exporta praticamente o dobro (US$ 20 mil) em produtos e serviços do que o funcionário de empresas tradicionais (US$ 10 mil).
Os salários também são mais altos, pagando até 13% a mais do que a média norte-americana. A maioria das vagas é ocupada por pessoas com algum treinamento prático, mas sem necessariamente terem uma formação mais aprofundada. Isto significa que novos funcionários podem ser recrutados de maneira rápida, o que torna o setor ágil e versátil.
Os empregos da economia limpa estão geralmente localizados em áreas metropolitanas, com 64% de todos os postos de trabalho e 75% das novas vagas estando dentro das 100 maiores cidades dos Estados Unidos.
Recomendações
O “Sizing the Clean Economy” deixa claro que é preciso que o governo reconheça a importância desse setor e faça sua parte, fornecendo condições para que a iniciativa privada possa crescer.
Para os pesquisadores, se o Congresso e o governo federal aprovassem medidas como a precificação do carbono ou padrões de qualidade para a geração de energia, isto faria que o crescimento da economia limpa disparasse no país. Se essas ações estão fora de questão, o governo deveria ao menos fornecer facilidades e incentivos com relação a impostos e financiamentos.
Os estados também têm muito a lucrar se atraírem para seus territórios empresas de tecnologias limpas. A criação de aglomerados de empreendimentos, no estilo do “Vale do Silício”, ajudaria o desenvolvimento sustentável de diversas regiões hoje empobrecidas.
“Trata-se de uma grande oportunidade para cidades e estados que no momento não atravessam uma boa situação financeira. Atrair empresas de baixo carbono é garantir empregos de qualidade e novas divisas. É preciso perceber que a hora de investir é agora, pois esse é o momento de desenvolver as bases que vão garantir uma posição de destaque no cenário internacional nos próximos anos”, conclui Muro.
O Brasil não conta com levantamentos semelhantes, mas apenas os investimentos em energia renovável chegaram aos US$ 7 bilhões ano passado. O governo deve trabalhar com Universidades e com a iniciativa privada para que em breve também possamos comemorar os milhões de empregos em tecnologias limpas.