Gerar energia elétrica para alimentar a própria casa através de painéis solares fotovoltaicos ou de uma pequena turbina eólica. Pode parecer uma ideia restrita aos países de primeiro mundo, onde a energia renovável já é uma realidade bem disseminada, mas é exatamente isso o que defenderam especialistas em energia que participaram nesta segunda-feira (18) de um simpósio paralelo à Conferência das Nações unidas para Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), evento internacional que acontece nesta semana na cidade do Rio de Janeiro.

Entre os participantes do evento “O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21: Oportunidades e Desafios” estavam Célio Bermann, professor e pesquisador de eletrotécnica e energia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-assessor da presidente Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia; Marcelo Furtado, diretor do Greenpeace Brasil; Danny Kennedy, fundador e presidente da empresa de energia solar residencial Sungevity; Élbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica; Felício Pontes, procurador do Ministério Público Federal; Stefan Schurig, diretor de energia e clima do World Future Council Foundation; Albino Ventura Filho, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, entre outros.

O encontro, que se estendeu pela manhã e por parte da tarde, debateu sobre a atual matriz energética brasileira – alegadamente limpa – e sobre os desafios e oportunidades para transformar nosso mix energético em realmente sustentável, alimentado por fontes realmente renováveis e limpas.

De acordo com a maioria dos palestrantes, o atual modelo energético do Brasil – baseado nas usinas de energia hidrelétrica de grande porte – está longe de ser sustentável, pois essas hidrelétricas, além de alagarem uma grande área causando enormes alagamentos que levam a um desmatamento e a grandes emissões de metano devido às árvores que apodrecem sob as águas, também causam grandes prejuízos sociais, pois deslocam milhares de pessoas de suas terras, forçando-as muitas vezes a perderem suas casas e meios de subsistência.

Como alternativa a esse modelo, os participantes do simpósio sugeriram as energias renováveis como a eólica, a solar, a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas, enfatizando o grande potencial que essas energias têm para serem desenvolvidas no Brasil.

Élbia Melo, por exemplo, destacou que, atualmente, a geração eólica corresponde a menos de 1% do total de energia produzido no Brasil, mas que há projeções que mostram que esse valor pode chegar a 5,3% em 2014 e 12% em 2020. Ela lembrou também que novas estimativas mostram que o Brasil tem capacidade para gerar até 300 GW de energia eólica, e que, com recentes tecnologias, a eólica pode ser até mais eficiente que a hidrelétrica.

Já Danny Kennedy afirmou que a energia solar pode gerar até três vezes mais empregos do que a energia hidrelétrica, pois cria trabalho em toda a sua cadeia – desde a produção até a venda e manutenção de painéis solares, enquanto na energia hidrelétrica essa geração de empregos fica concentrada apenas na fase de produção energética.

Os palestrantes também defenderam a diversificação do mix energético nacional, alegando que o apagão que ocorreu no início da década passada foi causado, em parte, pela concentração da geração de energia em uma única fonte.

Mas o que os palestrantes realmente ressaltaram no evento foi a possibilidade – e necessidade – de o Brasil descentralizar suas fontes de energia, fornecendo a oportunidade de os consumidores gerarem sua própria eletricidade.

Não faltaram exemplos – dados pelos participantes e pela plateia – de iniciativas que, nas palavras de Stefan Schurig, deram “power to the people” (energia/poder às pessoas). A ideia, segundo os especialistas, é justamente essa: que a população não apenas seja capaz de produzir sua energia, mas que, desta maneira, se torne mais consciente e ativa a respeito das decisões e escolhas energéticas do país. Infelizmente, a maioria das iniciativas como essa ainda ocorre em países desenvolvidos.

Aqui, a geração de energia elétrica em escala residencial e comunitária ainda está engatinhando, mas já mostra os primeiros sinais de potencial. Os palestrantes lembraram que, recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou a microgeração de energias renováveis, permitindo que a população tenha painéis fotovoltaicos ou turbinas eólicas em casa para produzir sua própria eletricidade.

No entanto, as condições ainda são bem limitadas, e carecem de melhorias para se tornarem atrativas. A instalação destes equipamentos é cara, e faltam financiamentos para a aquisição dessas ferramentas de microgeração. Felizmente, já há projetos para resolver esse problema: algumas inciativas pretendem colocar no telhado de uma casa residencial um painel fotovoltaico cobrando mensalmente a energia gerada, em vez de vender o equipamento.

Retrocesso

Infelizmente, nem todos os participantes compartilhavam destas visões a respeito de uma nova energia, mais limpa e democrática. Albino Ventura Filho crê que a hidrelétrica ainda deva ser a principal fonte de energia do país, e que as energias renováveis alternativas são apenas fontes “complementares”.

Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, o Brasil ainda precisa que as fontes alternativas fiquem mais baratas e suas tecnologias sejam desenvolvidas nacionalmente antes de serem implantadas em larga escala. E, apesar de todas as boas iniciativas apresentadas, se lembrarmos do que disse recentemente a presidente Dilma Rousseff sobre a irrealidade das energias alternativas no Brasil, pode ser que ainda demoremos a ver essas ações se tornarem realidade em nosso país.

Fonte:http://www.institutocarbonobrasil.org.br

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