“A Alemanha decidiu deixar para trás o mix energético com décadas de antiguidade que consistia principalmente em combustíveis fósseis e energia nuclear. A maioria dos alemães apoia essa decisão”, disse Merkel, em discurso ao Parlamento, no dia 29 de janeiro. “Se há uma tarefa política que precisa ser centrada nas pessoas, não em interesses de particulares, é a mudança energética”.
Campanha da chanceler para limitar as mudanças climáticas com fontes renováveis está reduzindo os lucros de empresas fornecedoras da energia
A campanha da chanceler alemã Angela Merkel para limitar as mudanças climáticas com um sistema energético baseado em fontes renováveis está reduzindo os lucros de empresas fornecedoras de 57 por cento da energia que mantém a maior economia da Europa em funcionamento.
A multiplicação da energia solar e eólica por cinco no continente na última década inundou as rede elétricas com energia, desbancando combustíveis fósseis tão rapidamente que a distribuidora RWE AG, dependente de carvão e gás, perdeu dinheiro no ano passado pela primeira vez desde 1949. Os lucros das usinas europeias movidas a carvão caíram 23 por cento no ano passado, a maior queda desde 2010. As margens podem desaparecer nos próximos dois anos, segundo a Kepler Cheuvreux SA, uma corretora com sede em Paris.
A energia solar e a eólica podem responder por cerca de metade da capacidade de geração da Alemanha até 2020, contra 37 por cento em 2013, segundo dados da Bryan, Garnier Co. As perdas ameaçariam o fornecimento de eletricidade, disse Bernhard Guenther, diretor financeiro da RWE, no dia 4 de março.
“A situação é clara: as usinas energéticas que já não podem operar economicamente e que não são necessárias para manter a estabilidade do sistema serão desativadas”, disse o CEO da EON SE, Johannes Teyssen, a repórteres, em Dusseldorf, Alemanha, no dia 12 de março. “Se essa tendência continuar inabalada, muito em breve teremos uma séria escassez de capacidade. E, nesse caso, a segurança absoluta da oferta já não será inquestionável”.
Perdendo dinheiro
A lucratividade das usinas de carvão caiu 11 por cento em fevereiro e estava em 6,02 euros (US$ 8,38) o megawatt-hora hoje. O chamado clean-dark spread, um cálculo baseado nos preços da energia, o combustível e as emissões de CO² para o ano seguinte, atingiu uma baixa de 1,22 euro o megawatt-hora em dezembro de 2010, segundo dados compilados pela Bloomberg desde outubro de 2009.
As margens nas usinas de gás têm sido negativas desde 2012. As perdas aumentaram em 62 por cento no ano passado, para 20,34 euros o megawatt-hora.
A RWE reportou uma perda de 2,76 bilhões de euros em 2012, após se desfazer de 4,8 bilhões de euros em ativos, a maioria usinas de energia, disse a empresa no dia 4 de março. A EON estima que o lucro cairá até 33 por cento neste ano após um mergulho de 46 por cento, para 2,24 bilhões de euros, em 2013, disse a maior empresa de energia da Alemanha no dia 12 de março.
Aumento das energias renováveis
Nove das 10 usinas europeias de carvão e gás estão perdendo dinheiro, escreveu Patrick Hummel, analista da UBS AG em Zurique, no mês passado, em um relatório. Elas enfrentarão perdas no rendimento líquido agregado de quase 2 bilhões de euros até 2016, segundo o banco.
A Alemanha está substituindo combustíveis fósseis e energia nuclear por energias renováveis em seu programa de transformação energética de 550 bilhões de euros, o Energiewende. O país quer que a energia verde responda por 40 por cento a 45 por cento do fornecimento que o país necessita até 2025, e 55 por cento a 60 por cento 10 anos depois.
“A Alemanha decidiu deixar para trás o mix energético com décadas de antiguidade que consistia principalmente em combustíveis fósseis e energia nuclear. A maioria dos alemães apoia essa decisão”, disse Merkel, em discurso ao Parlamento, no dia 29 de janeiro. “Se há uma tarefa política que precisa ser centrada nas pessoas, não em interesses de particulares, é a mudança energética”.
A Alemanha precisa assegurar que as antigas plantas de carvão saiam do mercado enquanto unidades de gás eficientes entram, segundo Oliver Krischer, porta-voz para política energética do Partido Verde alemão. “As velhas usinas de carvão deveriam entrar em sua bastante merecida aposentadoria”, disse Krischer, 44, por telefone, de Dusseldorf. “A maioria delas é bem mais velha que eu”.
Adaptado http://exame.abril.com.br/