A partir de março de 2015, os pilotos suíços André Borschberg e Bertrand Piccard vão iniciar a volta ao mundo em um avião movido a energia solar, batizado de Solar Impulse. O objetivo da viagem é promover a tecnologia limpa e fomentar o uso de recursos renováveis para melhorar a eficiência dos mais variados produtos, desde partes de refrigeradores até baterias utilizadas em metrôs. “Queremos chamar atenção para as possibilidades que existem no emprego dessa nova tecnologia”, disse Borschberg em entrevista ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado.
A primeira decolagem está programada para ocorrer no Oriente Médio e a aeronave seguirá o trajeto na direção oeste para leste, sempre pelo Hemisfério Norte. “Escolhemos o Hemisfério Norte porque, diferentemente do Hemisfério Sul, há mais terra em relação à água, ou seja, é mais fácil contornar uma situação imprevisível”, explicou Borschberg. Já a escolha do Oriente Médio ocorreu porque os pilotos pretendem voar antes do início das monções – chuvas torrenciais, especialmente de junho a agosto, que atingem o sul e o sudeste da Ásia.
O Solar Impulse vai sobrevoar essa região e aterrissar na China. “Lá, vamos estudar com detalhes as condições do tempo porque faremos a perna mais longa da viagem, provavelmente até o Havaí.” Borschberg disse que serão cinco dias e cinco noites na travessia do Oceano Pacífico. No total, a viagem levará de dois a três meses. “Em termos de dias em voo, serão 20.” No restante do tempo, a aeronave vai ficar em exposição, por cerca de dez dias, nos locais em que aterrissar.
Para realizar a viagem, Borschberg e Piccard vão voar em um avião que lembra um planador, embora em proporções bem diferentes. Da ponta de uma asa a outra, são 72 metros, praticamente a envergadura de Boeing 747. O peso, porém, é praticamente duas vezes o de um carro popular, ligeiramente acima de duas toneladas. O esqueleto do avião é composto por fibra de carbono. Leve e feito para planar, o aeronave precisa de apenas 120 metros de pista para decolar ou aterrissar. A velocidade média do equipamento é de 70 quilômetros por hora, alcançada por quatro motores de 15 cavalos de potência cada um.
Em cima das asas, 18 mil células solares captam a luz que, transformada em energia, é armazenada em uma bateria de 600 quilos, a fim de manter o avião em funcionamento durante a noite. Borschberg disse que a bateria dura cerca de dez horas após ser totalmente carregada. Ele explicou que, para conseguir atravessar a noite voando, precisava gerenciar o uso da energia. Segundo o piloto, para isso, é preciso ir a uma altitude de 9 mil metros e, a partir dali, desligar a energia e ficar planando, por cerca de quatro horas, até chegar a 3,5 mil metros, quando a energia volta a ser acionada. “São dez horas de bateria mais quatro apenas planando. É assim que se voa à noite.”
Além dessa, há diversas outras curiosidades em relação ao Solar Impulse. A aeronave só tem espaço para uma pessoa, ou seja, os pilotos vão se revezar nos pontos de parada da viagem. E isso causa outra dúvida. Como ficar cinco dias cruzando o Oceano Pacífico? Borschberg explicou que, durante essa travessia, o piloto só poderá tirar cochilos de 20 minutos, momento em que o sistema opera nas características de um piloto automático. O suíço disse ainda que o assento funciona também como vaso sanitário. “Estou me preparando e fazendo exercícios de meditação. É mais preparação mental que física.”
Questionado sobre qual seria a maior dificuldade, Borschberg afirmou que é entender o comportamento do avião. Segundo ele, quando o piloto realiza um comando, nada acontece de modo instantâneo. “Tem de ter paciência. Não há reação imediata. É preciso dar um comando, ver o que acontece e corrigir depois.”
Borschberg está no Brasil para as comemorações dos 150 anos do grupo Solvay, patrocinador do Solar Impulse. O piloto disse que o grupo químico internacional, com sede em Bruxelas, na Bélgica, foi o primeiro a acreditar, há nove anos atrás, na ideia de uma aeronave movida a luz solar. O projeto tem 12 anos e desde então absorveu investimentos de US$ 150 milhões. “Isso não inclui pesquisa feita pelas empresas, apenas o pagamento de salários da equipe técnica e fornecedores”, afirmou o piloto. “O valor é a metade do custo de produção de um grande filme americano de Hollywood.”
Costa a costa
Uma versão menos sofisticada, embora similar, do Solar Impulse realizou, de maio a julho deste ano, uma viagem de costa a costa dos Estados Unidos, do Vale do Silício a Nova York. Durante as paradas, em Phoenix, Dallas, St. Louis, Cincinnati e Washington D.C., o avião recebeu 100 mil visitantes.
Indagado a contar um momento marcante, Borschberg disse que, durante essa viagem, uma parte embaixo da asa sofreu uma avaria. Um helicóptero tirou fotos do problema e enviou para técnicos em terra. “Os engenheiros disseram que estavam surpresos que a asa ainda não havia se desintegrado”, disse, sorrindo, o piloto suíço. “Foi um momento engraçado”.
Fonte:http://www.dgabc.com.br/