Brasil – Linhas de crédito especiais para a construção e modernização de hotéis que utilizam energia solar para aquecimento de água, incentivos fiscais na compra de equipamentos, legislações que regulamentam o setor e a fiscalização ativa, estão provocando uma grande conscientização e mobilização de investidores e hoteleiros para adotar este sistema que pode reduzir em até 70% os custos com energia elétrica.
No último dia 26 de março muitos hotéis no Brasil desligaram as luzes por uma hora em vários ambientes para participarem da campanha “Hora do Planeta”, uma mobilização mundial de conscientização às mudanças climáticas, promovida pela WWF — World Wildlife Foundation. Os hóspedes também foram conscientizados a darem sua contribuição e evitar utilizar os elevadores e a manterem as luzes e os equipamentos elétricos de seus apartamentos desligados. É louvável esta campanha, mas pena que a maioria absoluta dos hotéis no Brasil poderia economizar energia elétrica durante o ano inteiro, mas só lembram do impacto que a geração de energia pode ocasionar ao clima do planeta durante uma única hora anual. E a maioria dos hotéis brasileiros ainda utiliza a “Hora do Planeta” como um tremendo estardalhaço em ações e campanhas promocionais e de marketing para mostrar aos clientes que se preocupam com as energias renováveis, mas será mesmo? Quantos hotéis no Brasil utilizam energia limpa e renovável, como a solar? São muito poucos, e quem investiu faz uma grande economia, e isso realmente prova aos hóspedes quem é mesmo ecologicamente correto o ano inteiro e não somente por uma única hora anual.
O Hotel Colinas fica numa região de clima frio, mas consegue aquecer bem a água através da utilização de energia solar.
A energia elétrica é um bem muito precioso e caro, em muitos hotéis o custo vem em primeiro lugar, até mesmo na frente de folha de pagamento, seguido pelo consumo de água. Então uma solução eficaz que traz uma enorme economia no custo operacional de um hotel é o aquecimento de água através de energia solar, pois o hóspede que toma banho em minutos em sua residência, não costuma ser tão econômico numa ducha relaxante de um hotel. Um redutor de vazão de água instalado nas duchas e nas torneiras assegura o sistema uma grande economia.
Energia renovável e gratuita
Uma das grandes preocupações dos empresários ou investidores do setor hoteleiro com relação à energia solar é se ela pode ser utilizada em todo o território nacional ou se existem algumas restrições em regiões frias. Um bom exemplo é o Hotel Colinas, localizado na cidade de Giruá, que fica a 376 km de Porto Alegre e a temperatura média é de 19º C, porém em algumas épocas do ano, fica abaixo de zero grau. O hotel Colinas resolveu apostar neste sistema e implantou equipamentos para aquecer quatro mil litros diários pra que os reservatórios e coletores não congelassem com o frio. Para isto, foram utilizados 40 coletores de altíssima produtividade que geram uma economia grande no final do mês na conta de energia.
Painéis solares instalados em telhados de hotéis, como o Ilha do Boi, em Vitória, já fazem parte do cenário urbano de muitas cidades do Brasil.
A radiação solar está disponível em todo o território nacional, no caso dos locais mais frios e com menos radiação basta utilizar um pouco mais de coletores solares para compensar e obtermos o mesmo resultado com a de locais ensolarados e quentes. “Implantando um sistema de energia solar para o aquecimento de água, o hotel pode conseguir uma redução nos gastos com energia elétrica de até 70%. Isto é assegurado através de equipamentos que chamamos de Plug Sol, que pode ser instalado e monitorar em tempo real por telemetria o desempenho do sistema de aquecimento solar. Uma outra forma é contratar uma empresa idônea e competente para conceber e projetar o sistema de aquecimento solar e assim em projeto já se conhece o desempenho futuro da instalação”, revela o diretor da Agência Energia Projeto e Consultoria em Energia Solar, Rodrigo Cunha Trindade.
Segundo o DASOL — Departamento Nacional de Aquecimento Solar — da Abrava Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, um hotel médio de 300 quartos gasta um valor estimado em US$ 1,2 milhão por ano em energia. O DASOL estima que cerca de 6,24% de toda a energia produzida no Brasil é utilizada para aquecimento de água para banho e em empreendimentos hoteleiros, o aquecimento corresponde a cerca de 20% do consumo de energia elétrica e de até 40% do consumo global de recursos energéticos. O investimento em sistemas de aquecimento solar instalado representa algo menor que 1% em empreendimentos hoteleiros.
Linhas de financiamentos especiais
Existem no mercado diversas linhas de financiamento disponíveis para sistema de aquecimentos solares de água, com prazos para pagamento de até cinco anos. Mas a que mais chama à atenção é a linha de crédito e financiamento ProCopa do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social para ampliação e modernização do empreendimento. Este programa visa financiar a juros subsidiados a ampliação e modernização do parque hoteleiro brasileiro para atender os grandes eventos que o país irá sediar nos próximos anos. A ecoeficiência energética e sustentabilidade ambiental são requisitos básicos para taxas de juros e prazos de pagamento diferenciados. Um exemplo disso é que, para a construção de um hotel novo, se não houver certificações de eficiência energética ou de sustentabilidade, o prazo para quitar o financiamento é de 10 anos, mas se as certificações forem apresentadas, porém, os prazos podem chegar a 18 anos. Quanto às taxas, podem ser diminuídas em até 1,8% ao ano, se forem apresentadas as certificações. Vale lembrar que o BNDES dispõe de R$ 1 bilhão para o ProCopa.
Os painéis solares instalados no telhado do Blue Tree Park Lins asseguram água quente para torneiras e chuveiros do empreendimento
Apesar da linha de financiamento do BNDES oferecer diversas vantagens para os investidores hoteleiros que desejam implantar a energia solar em seus empreendimentos e considerada uma eficiente ferramenta de marketing para o hotel, na visão de muitos hoteleiros a implantação deste projeto é caro e inviável na maioria das vezes. Na verdade o que existe é uma tremenda falta de conhecimento de grande parte dos empresários do setor hoteleiro. Muitos por precaução ou mesmo por despreparo preferem adotar medidas mais imediatistas e baratas para suprir esse consumo de energia elétrica em seus hotéis.
Legislação e regulamentação do setor
Ciente da necessidade de implantar energias limpas e renováveis, os governos têm trabalhado em conjunto e hoje os equipamentos já não pagam IPI e nem ICMS e o poder público está cada vez mais convencido que o aquecimento solar é viável e bom para sociedade brasileira. Prova disto é que 27 cidades do Brasil já adotaram legislação que concede incentivos ao uso de energia solar na construção de novas edificações ou mesmo na modernização. Em São Paulo, que é uma vitrine do mercado e dita padrões e referências no Brasil, não poderia ser diferente. Levando em consideração o Código de Obras e Edificações do Município, o prefeito Gilberto Kassab sancionou no dia 21 de janeiro de 2008 o Decreto 49.148 que regulamentou a Lei 14.459 de 03 de julho de 2007. A medida está em pleno vigor e determina que todos os imóveis novos ou antigos, de uso residencial ou não, que utilizem piscina aquecida devem ter aquecimento por sistema solar. Apenas estão desobrigados do cumprimento da lei os imóveis em que for comprovada a impossibilidade de implantação do sistema de captação de energia solar.
Entre os critérios técnicos que permitem a exceção à regra está o sombreamento do local de implantação dos coletores solares por edificações ou por obstáculos externos existentes fora da edificação, e/ou sombreamento natural, considerado o período de maior incidência de raios solares sobre a área. Para garantir a viabilidade econômica da lei, os sistemas de instalações hidráulicas e os equipamentos de aquecimento de água por energia solar de que tratam esta medida devem atender, no mínimo, 40% de toda a demanda anual de energia necessária para o aquecimento de água, devendo ter, ainda, sua eficiência comprovada por órgão técnico credenciado pelo Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial.
Além de observar a legislação, os hoteleiros e investidores devem estar atentos à qualidade dos serviços para evitar aborrecimentos no futuro, pois na maioria das vezes, quem vende equipamento não está habilitado a elaborar projetos. “Recomendo que procurem uma empresa de projeto experiente e desvinculado do fornecimento de equipamentos e que sejam sempre utilizados produtos etiquetados pelo Inmetro. Sugerimos que a concepção do sistema e decisões iniciais como dimensionamento e especificações dos equipamentos sejam realizadas por profissional isento e com visão do que tem de melhor no mercado. Assim não existe conflito de interesse e pode-se conseguir o melhor retorno para os investimentos” alerta Trindade.
Hotéis ecologicamente corretos
No Brasil existem muitas empresas que fornecem soluções e equipamentos de aquecimento de água através de energia solar, como a Pro-Sol que possui produtos etiquetados e de alta qualidade, com conhecimento e comprometimento no atendimento da cadeia hoteleira e está preparada para atender obras de pequeno e de grande porte. Muitos hotéis do Brasil já descobriram as vantagens em adotar as soluções de aquecimento de água por energia solar e conseguem uma grande redução de custos com energia elétrica. Uma delas é a Pousada Piatã em Salvador que resolveu investir por necessidade cerca de R$ 8 mil num sistema de aquecimento de água em plena crise do apagão energético e não se arrependeu, pois consegue economizar 30% em apenas 11 apartamentos. Se a arquitetura da pousada permitisse implantar o sistema em todo empreendimento, a redução poderia ser no mínimo o dobro. Também em Salvador o Kiaroa Resort implantou o sistema em 2003 através de um investimento de R$ 50 mil e teve o retorno em apenas três anos com a redução do custo na conta de energia elétrica, isto sem contar a satisfação do hóspede em saber que está num resort preocupado com o meio ambiente.
A solução de energia solar também é uma boa opção para hotéis de alto luxo, como Maceió Atlantic Suites, em Alagoas. Em 1998, o hotel fez um investimento de R$ 45 mil na implantação de um moderno e eficiente sistema para aquecer água para todos os 204 apartamentos e em apenas 18 meses o investimento já estava pago. Na cidade de São Paulo, o Hotel Matsubara implantou um sistema de energia solar em conjunto com a construção da edificação e ele contempla os apartamentos, cozinha, lavanderia e piscina.
Outro empreendimento hoteleiro que também apostou na energia solar é o Blue Tree Park Lins, localizado na cidade paulista de Lins, que implantou em 2009 um sistema de aquecimento de água. Esta iniciativa vai ao encontro do preceito japonês do Mottainai (não-desperdício) que é norteador das ações ambientalmente corretas da Blue Tree. O sistema de energia solar devolve o calor à água armazenada nos reservatórios e abastece todos os quartos do resort, permitindo que os hóspedes desfrutem de água quente nos chuveiros e torneiras. A geração de energia no painel solar tem relação direta com a intensidade da luz. Em dias nublados, quando a intensidade da luz é reduzida, não se tornando suficiente para atender a demanda de energia, é utilizado um sistema de aquecimento a gás como suporte energético. O Resort prefere não divulgar o custo do investimento, mas afirma que após a implantação do sistema solar, houve uma redução considerável do gasto com energia elétrica e que esta ação, aliada a outras de conscientização ambiental, servem para atrair e fidelizar os hóspedes. E seu hotel, se preocupa com as energias renováveis do planeta ou somente uma única hora por ano?
Studio Equinócio
Fonte: Revista Hotéis – 07.04.2011