Críticas à política do governo federal quanto ao meio ambiente marcaram o segundo encontro do Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre, na noite nesta segunda-feira (27). O evento reuniu dois nomes fundamentais para o debate sobre a sustentabilidade. A ex-ministra Marina Silva subiu ao palco da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ao lado do escritor e jornalista Fernando Gabeira para, lado a lado, discutirem alternativas e reflexões sobre o estilo de vida da sociedade contemporânea.

Como em um possível debate político, que poderá ocorrer em 2014, cada palestrante falou por cerca de 20 minutos. Depois, Gabeira e Marina tiveram direito a fazer uma pergunta ao outro. O público também colaborou com questionamentos. Ambos propuseram mudanças de paradigmas na forma de ver a sociedade e as questões sustentáveis.

“O que está sendo visto claramente é que a infraestrutura não consegue acompanhar o crescimento do número de carros, por exemplo. Nós estamos perdendo a nossa vida no engarrafamento. Mais do que isso: estamos perdendo a nossa produtividade”, pontuou Gabeira especificamente sobre os problemas no trânsito.

Marina nomeou as muitas crises que o planeta, em sua opinião, passa: a social, econômica, política e ética. “É preciso pensar a ideia da sustentabilidade para além do questionamento da maneira inadequada de fazer as coisas, da maneira inadequada de ser. Passamos por uma crise civilizatória”, disse a historiadora. “É necessário repensar o modelo de desenvolvimento. Não se pode pensar apenas no aspecto ambiental, mas também econômico, social, politico, ético e estético. Ecologia e economia não podem estar separadas”, opinou.

O atual Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi alvo de críticas tanto por Gabeira, quanto por Marina. “Nosso ministro de energia é o Lobão. Dali não vai passar nada. É mais um espaço de troca política, de compensações. Obama escolheu um Nobel em física para ser ministro de energia nos Estados Unidos”, comparou Gabeira. Marina lembrou da energia solar: “Não temos um parágrafo sobre energia solar em um país com a maior insolação do planeta. Isso é insustentável”.

Através de uma retomada histórica da responsabilidade ecológica do governo, desde a redemocratização do país, Gabeira se apoiou em decisões ao longo dos anos para desenhar o atual processo sustentável brasileiro. “Existe um retrocesso. A Dilma não tem essa visão clara da questão ambiental. Como ministra da Casa Civil, ela focou em tocar as obras. Depois, quando foi à Dinamarca em um encontro sobre o tema, deu uma entrevista coletiva dizendo que ‘o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento mundial’”, dissertou o carioca.

Quanto às novas tecnologias e à economia criativa, os ministrantes apostam nas pessoas para a transformação. “Eu quero lembrar que o Brasil não é feito só de Brasília, mas de cidades interessantíssimas que estão preocupadas com isso. Escrevi uma vez um livro falando sobre se mudar para perto da natureza, mas hoje aposto nas grandes metrópoles. Elas estão crescendo para dentro, se revitalizando”, explicou Gabeira.

Marina aposta na capacidade das pessoas em mudar seu jeito e a forma como enxergam o consumo. Através da diferenciação do que é o pensamento crítico e cínico, valorizou a capacidade de se conectar como forma de crescimento. “Há um processo em curso de desmaterialização do consumo. Isso pode nos ajudar a mudar. Se criou uma ferramenta criativa, que é capaz de trocar fotos, textos, até fofocas. E se ganha milhões. Nós somos uma cultura do excesso. Precisamos nos reconectar com a falta”, disse.

Possível candidata à Presidência da República, Marina Silva chegou a Porto Alegre ainda no fim de semana, onde reservou tempo para circular nas ruas e arrecadar assinaturas para um novo partido que pretende fundar ainda antes das eleições de 2014. “Sou persistente. Nem otimista, nem pessimista. Estou na corda bamba porque o muro já tem dono. Temos que ser políticos de longos prazos em nossos curtos prazos políticos”, discursou Marina.

Nascida no Acre, filha de seringueiros, a política representou o coração da floresta, enquanto Gabeira levou ao evento o conhecimento de anos no exílio e do primeiro contato com o, então, Movimento Verde da Alemanha. O jornalista é autor de obras diversificadas como “O Que É Isso Companheiro?”.

“O principal combate à corrupção é a transparência. Existe corrupção em todos os setores, não apenas nos licenciamentos ambientais. É impossível dirigir uma cidade não contando com a inteligência coletiva”, completou o escritor.

Fonte:http://www.extralagoas.com.br/

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