Empresa tem planos para iniciar obra de fábrica no País em 2012; microgeração e incentivos podem alavancar o crescimento da fonte

Por Wagner Freire

Apesar da tímida presença da geração fotovoltaica na matriz elétrica nacional – quando comparada a níveis mundiais – a fonte cresce a passos largos, com expansão de cerca de 100% ao ano. Segundo o presidente da Kyocera Solar do Brasil, Sérgio Benincá, em 2010 foram instalados 3MW em painéis solares no País. Para este ano, espera-se fechar a instalação de algo entre 5MW e 6MW e, em 2013, de 10MW.

Até o momento, no entanto, o desempenho da fonte esteve calçado fortemente no Programa Luz para Todos, do governo federal, com o uso de painéis para atendimento a comunidades rurais e isoladas. Para Benincá, a continuidade do desenvolvimento da tecnologia no País dependerá muito de políticas fiscais de incentivo. “Esperamos que daqui a dois anos o mercado de conexão à rede seja explorado, mas para isso dependemos de regulamentação da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] e de incentivos e/ou subsídios do governo”, explica o executivo.

O presidente da Kyocera acredita que, no futuro, a energia solar irá até mesmo ultrapassar o desempenho da eólica, que é, hoje em dia, a “menina dos olhos’ do setor. A aposta, segundo o executivo, se deve às particularidades de implantação das fontes. “A energia solar você consegue instalar em qualquer lugar, enquanto a eólica tem uma série de fatores que podem inviabilizar o projeto”, explica. Benincá compara: “se você pegar um milhão de telhados no Brasil e colocar 4kw em cada telhado, vai ter um terço de Itaipu – e com uma grande vantagem: espalhado por todo País, evitando, por exemplo, linhas de transmissão”.

O executivo afirma que houve “muita mudança no governo” em relação à fonte, mas vê a energia hidrelétrica ainda no topo das prioridades, o que afasta o foco dos projetos solares. “Acho que o governo dá um passo por vez e que às vezes dá um passo muito lento”, critica.

Benincá prevê que a geração centralizada será o grande mercado para os fabricantes, mas ressalta que a geração descentralizada é a mais importante. “Foi a que deu certo nos Estados Unidos e na Europa, principalmente na Alemanha. No meu entendimento seria mais importante, em termos de Brasil, que se desenvolvesse esse mercado descentralizado”. Questionado sobre os sistemas isolados, que têm recebido investimentos em mini-usinas fotovoltaicas, o presidente da Kyocera lembra que esses empreendimentos fazem parte de “um mercado limitado, que um dia acaba”.

Questionado se uma fábrica nacional seria a solução para a fonte, o executivo afirma que, no cenário atual, uma planta por aqui não mudaria muita coisa. “Você ainda teria que importar a célula solar, pois é uma tecnologia que não existe no Brasil. Talvez conseguisse viabilizar pelo mesmo preço de hoje, mas não uma queda”.

Ainda assim, a Kyocera tem aprovada, desde 2007, a construção de uma fábrica de módulos solares no Brasil. A iniciativa foi adiada devido à crise econômica mundial, entre 2008 e 2009. “A implantação deve ser retomada em 2012 para entrada em operação em 2013. Porque para você implantar uma fábrica é preciso ter mercado. Ninguém vai fazer investimento numa fábrica, colocar aqui e não vender, fica lá parado. Então, com o mercado aquecendo agora, acredito que no ano que vem a Kyocera comece a se movimentar a colocar a fábrica em operação em 2013”, revela.

Valores
Segundo Benincá, o custo da geração fotovoltaica vem sendo reduzido acentuadamente, mas o preço dos componentes ainda encarece os projetos. “Ela tem caído ano a ano, eu diria até que mês a mês. Mas o grande problema da energia solar é que você tem componentes que são muito caros e ainda não contam com a mesma isenção de ICMS e IPI que os módulos têm. Antigamente, o custo do módulo solar girava em torno de 70% do projeto. Hoje está na casa de 30 a 40%. Mas os outros equipamentos – baterias, inversores, controladores etc- que estão dentro do sistemas que não tem esses incentivos. Se considerar só o módulo solar, eu diria que nos últimos dois anos o preço caiu pela metade – e não estou considerando o câmbio, ele caiu em dólar”.

De acordo com Benincá, há um movimento forte de empresas estrangeiras procurando parceiros no Brasil para importar painéis solares; os chineses, inclusive, são apontados pelo executivo como os grandes concorrentes. Atualmente, para colocar um parque de 1MW de potência instalada no Brasil é necessário um investimento entre R$10 e R$12 milhões, gerando energia a um custo estimado pelo Ministério de Minas e Energia em cerca de US$400 por MWh. “Quero deixar claro que não estamos pedindo benefícios, mas que tenha um incentivo temporário, depois o mercado se regula”, conclui.

Fonte:http://www.jornaldaenergia.com.br

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