Em 2010, se você falasse em energia fotovoltaica para algum especialista no tema provavelmente ele diria – “Cara, o Brasil está longe disso, não temos quase nada e estamos longe de ter!” Nesse mesmo ano, comecei a estudar a fundo o assunto e em todos os trabalhos de faculdade usava a temática como contexto.
Para me embasar fui visitar uma das poucas empresas instaladas no Brasil, uma filial japonesa, e entrevistar sua gerente de vendas. Ela explicou que em nosso país apenas existiram alguns programas do Governo Federal como o PRODEEM (Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios), que acabaram se incorporando ao Programa Luz para Todos, entre outras poucas iniciativas voltadas mais para eletrificação rural e para pequenas comunidades isoladas. Cética e com suas vendas se limitando a apenas Iluminação e Bombeamento de Água, ela me disse que Energia Fotovoltaica era um mercado em que muitos apostavam em uns 20 anos para deslanchar, mas, que no entanto, existia um professor “maluco” do Sul que afirmava que em dois anos nosso país iria experimentar um boom.
Dois anos se passaram e embora ainda não tivéssemos o tal boom, nosso mercado deu grandes passos, e no contexto internacional o solar avançou de forma impressionante, conforme ilustrado a seguir:
Figura 1- Capacidade instalada global de solar FV (GW). Fonte: PSR
O maior consumidor de energia solar é disparado a Europa, correspondendo a cerca de 75% do crescimento global de 2011. O país líder em usar a tecnologia é a Alemanha, mas por outro lado, por volta de 70% da produção mundial dos painéis hoje é predominantemente da China e Taiwan. Observam-se, também, mercados como Portugal, Espanha, Austrália, África do Sul, EUA e agora a própria China vêm se desenvolvendo fortemente na sua capacidade instalada.
Outro fator que representa o relevante crescimento desse mercado é a redução dos preços dos painéis, provocado por uma sobreoferta agravada pela crise econômica e o corte de subsídios, como por exemplo, na Espanha. Essa redução obrigou as empresas do setor a reduzirem os seus custos, que somados aos altos subsídios que o governo chinês concedeu às suas fábricas, provocou uma quebradeira nas empresas norte-americanas.
Figura 2: Redução do preço dos módulos FV. Fonte:PSR
Aqui, no Brasil, nos últimos meses, a inserção de energia solar fotovoltaica obteve bastante destaque na mídia. O Governo do Rio de Janeiro, através do ex-ministro Carlos Minc, publicou a Carta do Sol, um documento técnico e conciso produzido pela UFRJ que analisa as perspectivas desta fonte no Brasil, assim como seu desenvolvimento tecnológico a nível mundial, custos e formas de incentivos apropriados, e proposição de caminhos para a sua promoção no País. O Ministério do Desenvolvimento e da Indústria teve também um papel importante fazendo declarações de que “é a hora do solar”, indo na contramão de outros Ministérios que ainda tem dificuldade de quebrar o paradigma de uma matriz energética do século passado. Do outro lado, o setor empresarial se organizou, associações como a COGEN e a ABINEE agregaram diversas empresas e começaram a pressionar o governo, encaminhando propostas importantes como os leilões de energia solar, seguindo o exemplo bem sucedido da energia eólica. A MPX, por exemplo, deu um grande passo ao fazer a primeira usina no Ceará com capacidade de 1MW. Por fim, a sociedade também contribuiu, colocando cada vez mais a temática das energias limpas como fundamental para o desenvolvimento sustentável do país.
Água mole, pedra dura, tanto bate, até que fura. Em agosto de 2011, a ANEEL explicitou seu interesse na energia solar, incluindo esta fonte na lista de temas estratégicos para o setor elétrico e publicando uma chamada pública para projetos de P&D visando “Arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração solar FV na matriz energética brasileira”. Mais de 100 empresas demonstraram interesse em submeter projetos neste tema, dos quais 17 foram aprovados.
Mas foi em abril deste ano, que a ANEEL deu o grande passo para desenvolver a energia solar. A partir da Audiência Pública n⁰42/2011, foi aprovada a Regulamentação que estimula e organiza a expansão iminente da geração FV conectada à rede de distribuição, criando um sistema de compensação, no qual instalações com produção maior que o consumo em certo mês (o excesso sendo injetado na rede) ficariam com o crédito de energia (kWh) que poderá ser abatido do consumo da conta de luz dos meses seguintes.
Na verdade, 2012 é um marco para o mercado no Brasil. Alguns estádios, que serão usados na Copa, receberão a tecnologia em suas coberturas. Muitas empresas chinesas, europeias e americanas já estão abrindo seus escritórios em São Paulo e no Rio. Portugueses e espanhóis estão fugindo da crise, vindo para o Brasil, querendo desenvolver negócios e trabalhar na área. E agora com a nova regulamentação, milhões de residências poderão receber o sistema e milhares de empregos poderão ser criados, e é isso que discutirei no meu próximo artigo, por que esse mercado tem um potencial tão grande de geração de empregos? Por que a mão de obra é o principal desafio para de fato a energia solar ser um sucesso em nosso País?
Fonte:http://oquefazerparamudar.wordpress.com/2012/05/13/o-lobby-do-sol/
Excelente analise parabéns
luciano