A energia solar dá sinais cada vez mais evidentes de ser o próximo foco dos investimentos em energias alternativas no Brasil. Especialistas do setor e observadores acreditam que, a exemplo do segmento eólico, a geração de energia a partir dos raios solares deve ter um significativo desenvolvimento no País nos próximos anos. E, para os mais otimistas, a velocidade do crescimento dos projetos solares poderá ser mais intensa que a observada na geração a partir dos ventos, dada a possibilidade de realização de investimentos pequenos, por parte de consumidores residenciais, por exemplo. A expectativa é de que passos importantes possam ser dados ainda em 2012, especialmente no que diz respeito à regulação, fator considerado um dos entraves para a realização dos projetos.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) está elaborando um estudo com vistas a dar subsídios para regulamentar a comercialização da energia solar que deve ser enviado ao Ministério de Minas e Energia em 2012. Segundo o diretor de estudos de energia elétrica da EPE, José Carlos de Miranda Farias, o estudo abrange questões como custos e competitividade. A ideia é estimular a geração distribuída (em que os consumidores investem na geração própria e vendem o excedente para a distribuidora) como também possibilitar a comercialização da energia solar nos leilões promovidos pelo governo.

A iniciativa privada também colabora no desenvolvimento de estudos para a inserção da energia solar na matriz elétrica brasileira. A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) também criou um grupo de estudos visando elaborar um conjunto de propostas a serem entregues ao governo. A expectativa da entidade é enviar no primeiro trimestre de 2012 um documento ao Ministério de Minas e Energia (MME) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com sugestões relacionadas à regulamentação, especialmente no que diz respeito à comercialização e à tributação.

Segundo o vice-presidente da Cogen, Carlos Silvestrin, 15 empresas fazem parte do grupo de estudo, entre as quais Cesp, Tractebel, CPFL, Odebrecht Energia, Siemens, GE, Brennand, Atiaia Energia, Weg, Light e BTG Pactual. “Queremos dar uma visão privada da geração solar, mas evidentemente cabe à Aneel e ao ministério definir a forma de inserir a energia.”

P&D e eficiência energética

Independentemente da definição de regras, algumas iniciativas já foram criadas e possibilitam a ampliação do conhecimento das tecnologias relacionadas à geração solar por parte das empresas do setor elétrico. Além disso, já colaboram para estimular a expansão da fonte solar no País, cujo potencial foi praticamente inexplorado até o momento.

A Neoenergia, por exemplo, anunciou recentemente que planeja investir R$ 5 milhões em energia solar em 2012. A controlada Coelce irá instalar painéis fotovoltaicos na ilha de Fernando de Noronha. A ação, em parceria com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica, integra o Programa de Eficiência Energética, aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O sistema terá capacidade de gerar 400 kilowatt-pico (kWp), com expectativa de geração anual de 600 MWh, o que representa cerca de 6% do consumo da ilha. Com isso, o projeto deve contribuir para diminuir o consumo de diesel na ilha, que atualmente é atendida por uma termelétrica.

A Aneel também fez uma chamada pública para o desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) relacionados à inserção da geração solar na matriz energética brasileira, atraindo 18 projetos, de empresas como Ceee, Celg, Cemig, Cesp, Chesf, Coelba, Coelce, Copel, CPFL-Piratiniga, Cteep, Elektro, Eletropaulo, Petrobras, MPX e Tractebel. Juntas, essas empresas vão investir cerca de R$ 400 milhões em projetos que somarão aproximadamente 25 MW de potência.

Já a Eletrosul desenvolve o projeto “Megawatt Solar”. A empresa está em busca de fornecedores de painéis fotovoltaicos que serão instalados em cerca de 10 mil metros quadrados de áreas da própria sede da estatal, em Florianópolis. Em uma primeira licitação aberta em outubro passado, 14 empresas apresentaram propostas, mas nenhuma delas atendeu às exigências da fase de habilitação. A Eletrosul já iniciou os trabalhos de revisão do edital e a expectativa é de que um novo processo licitatório seja lançado em até fevereiro. A previsão inicial era de que o projeto entrasse em operação em 2012. A expectativa da Eletrosul é de que o empreendimento possibilite que maior conhecimento para investir na fonte, além de estimular iniciativas similares.

Outras iniciativas também devem estimular o segmento, como a instalação dos painéis fotovoltaicos nos estádios da Copa do Mundo. Os projetos preveem o uso desses equipamentos para o consumo próprio de energia, casos do Mineirão (MG), do Maracanã (RJ) e da Arena da Baixada (PR). A arena Pituaçu (BA), que não será utilizada na Copa, também contará com placas solares.

A segunda fase do programa federal Minha Casa, Minha Vida, também prevê o uso da energia solar nas moradias populacionais. A expectativa é de que até 400 mil famílias tenham suas casas equipadas com painéis para aquecimento da água. Os cálculos do governo apontam que o uso dessa tecnologia pode reduzir em até 30% o custo da energia desses consumidores.

Mas o desafio do desenvolvimento da energia solar é justamente ir além do aquecimento solar, segmento de maior desenvolvimento hoje, uma vez que 200 municípios do País já possuem legislação obrigando instalação de equipamentos para aquecimento solar. Estimativas do setor dão conta de que o número de sistemas de coletores para aquecimento solar esteja próximo dos 15 milhões de unidades.

Notícia publicada na edição de 15/01/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 040 do caderno B –

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