Em um país onde o futebol também é paixão nacional, o Borussia faz de tudo para ser o campeão de sustentabilidade. O Borussia Dortmund é o clube que atrai o maior número de torcedores por jogo e que tem o maior estádio do país, com capacidade para aproximadamente 81 mil torcedores. Mais recentemente, o Borussia passou a ostentar outro titulo importante: 100% de toda a energia consumida no estádio, no centro de treinamento e nos escritórios têm fontes limpas e renováveis.

Os painéis solares garantem a iluminação e o restante da energia limpa vem de uma empresa que virou parceira do clube em um projeto curioso. Torcedor cliente da distribuidora ganha desconto na conta de luz. A cada ponto do Borussia no campeonato, há o desconto de um quilowatt hora. Para o dirigente do clube, Carsten Cramer, a adesão de milhares de torcedores confirma o acerto da medida. “Depois de quatro meses, nós estamos muito mais do que satisfeitos”, conta Cramer.

Mais do que uma política pública, a “energiewende”, ou “virada energética”, só está sendo possível porque é popular. Aproximadamente 80% dos alemães apoiam o projeto. Por isso, Freiburg é considerada por muitos como a cidade mais sustentável do mundo. Os moradores do município foram os primeiros a protestar contra a instalação de usinas nucleares na Alemanha há mais de 30 anos. De lá para cá, a preocupação ambiental vem justificando um número cada vez maior de políticas públicas. Em 25 anos, a quantidade de lixo diminuiu de 140 mil toneladas para 50 mil na cidade. Freiburg também é uma das cidades com o maior consumo de energia solar por habitante.

O prefeito Dieter Salomon já esteve até no Brasil para falar do exemplo de Freiburg. “Cada cidade tem que achar uma solução que se encaixa na sua própria cidade. Não há uma solução perfeita. Você tem que começar e essa é a solução”, afirma Salomon.

Só que, apesar do apoio, o clima no país é de incerteza. O cidadão desconfia que a implantação da energia limpa não vai conseguir acompanhar o desligamento das usinas nucleares e teme apagões. Para garantir a estabilidade do sistema na transição, a Alemanha está queimando mais carvão mineral. A RWE, maior companhia energética do país, aumentou em 16% a produção de energia a base de carvão no ano passado. Resultado: ar mais poluído.

E tem mais. Para financiar toda a virada energética, só este ano a tarifa ficou 47% mais cara. Para uma família de quatro pessoas, isso significou 170 euros – cerca de 510 reais – a mais. Nídia mora há 25 anos em Dortmund e compartilha o sentimento dos alemães. “Nós acreditamos que o período para a construção de usinas alternativas é muito curto. Para isso, portante, acreditamos que vai haver um custo muito alto para que seja construído a tempo”, diz Nídia Batista, consultora empresarial.

Segundo a diretora da unidade de energia, transporte e meio ambiente do Instituto de Pesquisa Econômica da Alemanha, quem quer se beneficiar das fontes renováveis de energia, está disposto a pagar por isso. “Sim, os alemães querem apoiar a transição energética, mas eles querem ter uma divisão igual da energia renovável e também desejam pagar por isso”, acredita Cláudia Kemfert, diretora do instituto.

Apoiar é uma coisa, pagar é outra. E o cidadão procura o que é mais em conta. Uma brasileira e um alemão moram em Berlim e podem escolher a distribuidora de energia. Existem dezenas no mercado alemão e algumas com 100% de fontes limpas e renováveis. “Cada pessoa da sociedade inteira está participando dessa virada da energia. Já to sentindo no bolso porque cada consumidor está sentindo isso realmente, mas vale a pena, com certeza”, afirma o empresário Torsten Müller.
Na Alemanha, também é possível orçar, pela internet, um sistema de captação de energia solar. Basta dar o endereço e o software calcula a área de telhado, a incidência de sol na região e o custo de instalação dos equipamentos. “Temos 274 metros quadrados onde os painéis solares poderiam ser instalados. Eu acho a ideia excelente porque eu acho que essa virada energética não deve vir somente do Estado. O consumidor tem que fazer a parte dele”, explica Caroline D’Essen, analista de campanha.

Enquanto Caroline e Torsten pensam, os administradores do mercado de Berlim, o maior da cidade, agem. Todo o telhado, em uma área equivalente a seis campos de futebol, foi coberto com placas solares. O placar mostra a energia produzida e a quantidade de CO2 que deixa de ir para a atmosfera. Esse projeto custou quase 2 milhões de euros, mais ou menos R$ 6,5 milhões. O empresário explica que o retorno do investimento virá no longo prazo com a venda da energia excedente para a rede.

A lei assegura uma tarifa três vezes maior que a das distribuidoras. Quem banca é o consumidor, que está pagando mais caro, mas é isso que atrai e faz a Alemanha ter hoje quatro milhões de produtores individuais de energia e um mercado que já emprega 380 mil trabalhadores. Todo esse esforço tem um objetivo: chegar em 2050 com 80% de energia limpa e renovável. A reeleição de Angela Merkel deve garantir a continuidade do programa, certamente com ajustes. Mas nada que impeça a Alemanha de continuar fazendo história.

Fonte:http://g1.globo.com/

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