Da última vez em que o economista americano Jeremy Rifkin ficou badalado na imprensa mundial, foi apresentado como “inimigo da ciência”. (As aspas são da revista “Time”.) Na virada do século, a briga dele era contra transgênicos. Hoje, ele é um dos principais estrategistas da política energética da União Européia. Em seu novo livro, propõe uma idéia radical: o mundo está a poucos passos de iniciar uma nova revolução industrial. A internet está no centro dela. Mas ainda falta um detalhe para o processo se concretizar.

O livro se chama “The Third Industrial Revolution” – A terceira revolução industrial. Segundo Rifkin, revoluções industriais ocorrem a partir do encontro de duas inovações tecnológicas. Uma é uma nova ferramenta de comunicação. A outra, uma solução energética mais eficiente do que o que havia antes. O resultado deste encontro é uma mudança profunda na economia, na sociedade, na política.

A primeira ocorreu no século XIX. Energia a vapor começou a mover gente mais rápido por navios e trens. E a impressão usando linotipo e rotativas permitiu a publicação mais rápida de jornais, livros, revistas. Comida fresca e outros produtos começaram a chegar mais rápido. Nasceram as escolas públicas e o estado de bem estar social. Repentinamente, era possível ao Estado botar um livro na mão de cada aluno.
A segunda é do século XX. Rádio e televisão de um lado, energia elétrica distribuída e motor a combustão do outro. Unidas, estas inovações criaram o mercado de amplo consumo e, com isso, países de classe média no Primeiro Mundo. Ficou incrivelmente mais barato distribuir produtos por todo canto, assim como a produção barateou.

Revoluções industriais têm algumas características em comum, diz Rifkin. Uma delas é o controle sobre tempo e espaço. Fica mais fácil e rápido levar gente ou coisas a lugares. Assim como fica mais fácil circular ideias. O resultado destes fenômenos é que as sociedades ficam complexas e sofisticam seus processos de inovação.

No caso das duas primeiras revoluções industriais, ele continua, há outras características comuns. Foram centralizadoras e não é difícil entender o porquê. É que custaram caro. O tipo de infraestrutura exigida saiu por uma fortuna em ambos os casos. Eram caros os trens como eram caras as rotativas. E ainda mais caro saíram as redes de energia elétrica e as emissoras de TV.

Os complexos industriais nascidos neste contexto se concentraram em algumas regiões para ter acesso à infraestrutura. Exigiram bancos grandes e fortes para seu financiamento. Assim como foi necessário um aparato militar de peso para garantir acesso a energia – seja no desenvolvimento da nuclear, seja no fornecimento do petróleo. E, com tanta concentração de poder na indústria, no setor financeiro e nas forças armadas, não surpreende que um governo central forte também tenha acompanhado o processo.

Onde atingiram seu potencial máximo, as duas revoluções industriais geraram riqueza. Mas há um limite. Agora, segundo o economista, a segunda, ancorada pesadamente em combustíveis fósseis, está entrando em colapso. Conforme a indústria neste modelo se espalha por todo o mundo e novas sociedades enriquecem, limites são atingidos mais e mais rápido. Entra em crise o setor financeiro, entram em crise a política, os governos. E o planeta.

A nova tecnologia de comunicação já está aí. Ela é diferente de todas as anteriores: não é centralizada, é distribuída. Hoje, dois bilhões de pessoas em todo o mundo têm acesso a publicar vídeos, fotos e textos simultaneamente na rede. É verdade que há cinco bilhões de excluídos. Mas dois bilhões é mais do que jamais foi possível. Um número inimaginável alcançado em apenas 15 anos.

Falta, evidentemente, uma nova solução energética. Não é um problema simples de resolver mas, se o economista estiver certo, ele será resolvido nos próximos anos e décadas. Parece muito. Perante a História, é pouco. E o mundo mudará radicalmente. Na União Europeia, já seguem sua cartilha investindo no futuro enquanto o passado entra em colapso.

Fonte: http://sergyovitro.blogspot.com/

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